terça-feira

35 anos sem Jango


Christopher Goulart

O dia em que a voz de um homem simples se calou. Foi em 6 de dezembro de 1976. Último presidente trabalhista naquela noite distante, no torturante exílio que durou 12 anos, calava-se a mais contundente voz das reformas profundas do Estado brasileiro. Mais do que isso. Aos 57 anos de idade, tombava aquele que representava a queda da democracia no Brasil. Entre tantos estudos sobre a trajetória de Jango, que, confesso, por vezes, misturam-se a um sentimento pessoal - fui o único neto que meu avô João Goulart teve oportunidade de conhecer, permito-me incitar à reflexão aqui pretendida, partindo de um simples questionamento. Por que meu avô foi deposto por um golpe civil militar, no dia da mentira, em 1964?

Porque contrariar interesses de grupos econômicos em nome da justiça social efetiva não era permitido num país de desigualdades absurdas. As reformas de base, pretendidas por Jango, tiravam o sono das elites nacionais e internacionais. Reforma agrária significava eliminar os latifúndios improdutivos, obstáculo fundamental ao desenvolvimento e ao fortalecimento de nosso mercado interno. O padrão de concentração de terras instituído ainda no período colonial excluía a maioria da população brasileira - entre 60 e 70% da população habitava em área rural - produzindo miséria de todas as formas. Pois Jango, um grande proprietário de terras, assinou o decreto da Supra, no comício do dia 13 de março de 64, com a finalidade de iniciar uma reforma agrária no Brasil.

A Lei de Remessa de Lucros (lei 4.131), de 3 de setembro de 1963, assinada por Jango, restringia a remessa de lucros do capital estrangeiro a uma taxa máxima de 10% ao ano sobre o capital investido, excluindo-se os lucros dos reinvestimentos e capitalizados dentro do país pelo Congresso Nacional. Com a promulgação dessa lei, os grandes grupos representantes do capital internacional ficaram impossibilitados de espoliar os trabalhadores e explorar a economia nacional.

Apenas essas duas reformas eram dose para matar leão. E o leão foi morto, justamente pelos representantes das elites e do capital internacional. Poderíamos falar ainda na reforma urbana, educacional, administrativa, tributária, entre tantas outras. Todas elas assimiladas por Jango, que se atreveu a ultrapassar as barreiras retóricas do discurso em nome da emancipação política, social e econômica de um povo. Caiu de pé e morreu como herói.

Obrigado, meu avô. Seguiremos teu caminho.

presidente do Memorial João Goulart

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