quarta-feira

Desemprego na Europa e explosão social no Chile


   Os analistas estão alertando para os riscos de explosão social na Europa por causa da praga do desemprego, enquanto se prevê para breve o colapso do Chile, único país latino-americano aferrado ao neoliberalismo. Tal cenário não inibe a virulência da campanha de desestabilização contra os governos progressistas, notadamente da Venezuela, Argentina, Equador e o próprio Brasil. Como se sabe, nosso país enveredou por uma via menos confrontacionista com as chamadas forças do mercado, as grandes patrocinadoras e sustentáculos da chamada grande mídia.
   A opção latina de inclusão social, como podemos dizer, já que os governos progressistas representam a grande massa da população, não só evitou o contágio da crise de 2008, como promoveu a ascensão das classes mais desfavorecidas e a taxa do emprego, hoje na faixa de dos 7%, bem distante dos 27% da Espanha, por exemplo.
   Daí a importância de conhecer o ponto de vista desses analistas, que não são radicais de esquerda ou inimigos do neoliberalismo. Um deles é o ex-ministro da economia dos governos militares brasileiro, Delfim Netto, que, em seu artigo da revista Carta Capital, desta semana, lembra que a Organização Internacional do Trabalho, organismo da ONU, adverte para o risco de convulsão social no Velho continente:
    "Os números sobre a situação do emprego na Europa são aterradores", dize Delfim, explicando: "Quando se esperava um pequeno alívio em 2012, em seguida à leve desaceleração do desemprego no período 2010-2011, o levantamento mais recente apurou um aprofundamento da tragédia nos últimos seis meses".Segundo estes dados da OIT, citados pelo ex-ministro "um milhão de pessoas engrossaram uma estatística já quase inacreditável: somavam 26 milhões no início do ano passado os desempregados em 22 dos 27 países da Comunidade Europeia".

O Chile na mira - Por sua vez, o economista da Universidade de Cambridge, José Gabriel Palma, da Universidade inglesa de Cambridge, adverte que a insistência do Chile em manter um dos regimes mais neoliberais do planeta, está por um fio muito fino, que é, como diz, o alto preço hoje cobrado pelo cobre, principal produto de exportação. “Se esse fio se romper poderemos cair mais fundo que na crise de 1982, quando o PIB caiu 20%, o desemprego chegou a 30% e a população em situação de pobreza duplicou".
   Desde a década de 80, assinala o site Carta Maior, reproduzido pelo Pátria Latina, em matéria assinada pelo jornalista Marcelo Justo, o Chile é apresentado nos centros de poder global como o melhor aluno da região, o modelo que os demais países da América Latina deveriam imitar. Os dados macroeconômicos do governo de Sebastián Piñera supostamente reforçariam essa tese: crescimento de 5,8%, inflação baixa, desemprego baixíssimo. Mas nem tudo o que brilha é ouro. O mal-estar social – manifestações estudantis, greves portuárias e do setor do cobre, entre outras – tem um correlato econômico. Em entrevista ao Carta Maior, Gabriel é taxativo: "Claramente esse modelo começa a fazer água.
   Os estudantes disseram basta a essa educação de qualidade muito duvidosa e custo altíssimo. A matrícula universitária no Chile é a mais cara da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), quando se relaciona o custo com a receita por habitante". O economista ainda observa que "muitos trabalhadores, como na mineração, também disseram basta à subcontratação, ao abuso laboral e aos baixos salários. Segundo as cifras oficiais, dois terços dos trabalhadores não especializados, 60% dos trabalhadores jovens e mais de 40% de todos os trabalhadores da economia ganham um salário mínimo e meio ou menos. E isso em uma economia que, segundo o FMI, tem uma renda por habitante de US$ 18 mil. Há descontentamento social, mas isso não significa que haja uma crise institucional ou política. Há eleições onde o mais provável é a volta da Concertação com Bachelet". 

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