Um novo tipo de fascismo vem crescendo, com apoio de importantes forças políticas, em especial a mídia, no Brasil.
Vamos lembrar alguns fatos?
Recentemente, a rua onde mora o apresentador Jô Soares foi pichada com uma ameaça de morte:
"JÔ SOARES, MORRA".
A razão: Jô Soares entrevistou a presidenta da república, eleita em outubro passado com 54 milhões de votos.
Vou falar de novo: um apresentador foi ameaçado, publicamente, no lugar onde mora, porque entrevistou a presidenta da república de um país democrático.
Por mais que o apresentador tente fingir que não dá bola para isso, e leve na esportiva, é claro que ele deve ter ficado profundamente abalado, assim como todos os apresentadores de tv do país.
É um recado do Brasil fascista ao Brasil democrático: "não insista, nós, fascistas, temos a mídia, temos o dinheiro e queremos o poder!"
Jô Soares, apesar de ser um apresentador da Globo, não foi defendido pela Globo.
Não vimos nenhum editorial, nenhuma reportagem, nenhuma cobertura decidida da Globo contra os ataques fascistas a um de seus apresentadores mais tradicionais.
Ao contrário, a Globo empurrou Jô Soares para o horário mais vazio da madrugada. A própria entrevista com Dilma não foi sequer aproveitada devidamente nos telejornais da emissora.
Por que a Globo nem nenhum outro canal, nenhum jornalão, fez uma defesa enfática de Jô Soares contra os ataques fascistas que recebeu, os quais, aliás, não se limitaram à pichação na rua, mas também se materializaram em ofensas e ameaças nas redes sociais?
Porque a nossa mídia não iniciou imediatamente uma campanha contra essa escalada fascista que atinge profundamente a liberdade de expressão no país?
Afinal, que apresentador de TV terá coragem de entrevistar a presidenta Dilma, uma presidenta eleita duas vezes consecutivas pelo povo brasileiro?
Simples.
A mídia não defendeu Jô, porque ela é a matriz do novo fascismo brasileiro.
É duro dizer isso, mas é a pura verdade.
A criação da figura de um juiz-justiceiro, idolatrado pela classe média, ovacionado nos saguões dos aeroportos, e que não respeita direitos de defesa, e que prende ricos e poderosos, integra uma narrativa clássica do fascismo.
O fascismo, para se consolidar perante a opinião pública, precisa de figuras e narrativas que galvanizem a massa.
E como o fascismo esconde, no fundo, uma ideologia profundamente elitista, antissocial e antidemocrática, a única maneira de ganhar apoio das massas é sacrificando cordeiros gordos no altar do populismo penal.
Os fascistas de outrora faziam isso com judeus ricos.
As massas aplaudiam, entusiasmadas, a repressão a toda uma classe de ricos burgueses de ascendência judaica.
É preciso promover um circo.
Enquanto o telespectador segue distraído pelo espetáculo, os representantes do capital fazem avançar sua pauta no congresso, destruindo leis trabalhistas e vendendo o patrimônio público para interesses estrangeiros. É o que fazem Eduardo Cunha e José Serra, faturando em cima do fato da esquerda estar sendo encurralada pelas agressões crescentes de movimentos fascistas.
O capital sempre usou o fascismo para promover seus interesses, como quem solta uma fera em cima de seus adversários.
De que outro nome chamar a pichação contra Jô Soares?
De que outro nome chamar essa onda ultrarreacionária e ultraviolenta que corre o Brasil, culpando menores de idade pela violência urbana, mesmo que as pesquisas apontem que estes respondem por menos de 0,3% dos crimes contra a vida?
Temos fingido não ver a ascensão do fascismo no Brasil, como quem se recusa a acreditar no horror, mas é exatamente isso que está acontecendo. Não é mais um movimento marginal, periférico, insignificante, de grupos radicais nas redes sociais.
Não. É um movimento de massa, que bota milhões de pessoas nas ruas.
As manifestações de 15 de março e 12 de abril foram positivamente fascistas. Assim como será a que está sendo chamada para o dia 16 de agosto. Qual a solução apontada por elas para a crise política?
Derrubada do governo eleito.
Outra característica das manifestações fascistas é a mitificação da figura do juiz-justiceiro, modelo máximo da falsa meritocracia fascista. O líder não-eleito, o representante histórico da classe dominante.
E sempre se nota, em toda parte, uma carga de preconceito muito pesada contra o voto popular.
Tenta-se fazer o povo se envergonhar de seu próprio voto.
Com apoio da mídia.
A imprensa democrática teria a obrigação moral e política de iniciar uma grande campanha contra o avanço do fascismo político na sociedade.
Mas não o faz, porque ela, a imprensa, não é democrática. A imprensa comercial brasileira tem o DNA da ditadura e do fascismo. Os atuais jornalões consolidaram seu poder durante a ditadura.
Beneficiaram-se da ditadura.
A ditadura matou seus concorrentes. Matou economicamente, politicamente e até mesmo fisicamente.
O Brasil que emergiu no pós-ditadura é um sombrio deserto jornalístico, onde meia dúzia de oligarcas nacionais, coligados a algumas dezenas de oligarcas regionais, estabelecem um domínio absoluto sobre o mercado de opinião pública.
A democracia brasileira está órfã na imprensa comercial, que rasgou a pose pró-democrática que adotou durante o final da ditadura e os anos iniciais da redemocratização.
Hoje ela voltou a ser o que é: uma imprensa fascista, golpista, a serviço da preservação dos velhos privilégios
de sempre, além de submissa aos interesses do imperialismo americano.
Se estamos conseguindo vencer a batalha do estômago, muito teremos que fazer para vencer uma batalha crucialmente mais difícil: a dos corações e mentes, que é onde a direita tem mais poder, por seu domínio sobre os meios de comunicação.
Mais uma vez, é uma batalha de David contra Golias.
Os setores sociais que escaparam da lobotomização midiática, que engoliram a pílula vermelha e decidiram ver a realidade como ela é: uma paisagem sombria e devastada, repleta de conspirações diárias, na qual praticamente todos, absolutamente todos, os fatos jornalísticos são distorcidos com finalidades golpistas, estes setores são minoritários.
Somos poucos diante da manipulação midiática.
Mas estamos aumentando. Enquanto a grande mídia perde audiência rapidamente - e talvez exatamente por isso ela se arrisca mais pela via fascista - a audiência dos blogs e das redes sociais críticas à mídia, cresce.
A luta política não se dá entre todos os 140 milhões de eleitores. Ela se dá antes num universo bem menor, quiçá um terço disso, ou ainda menos, algo entre 10 a 50 milhões de cidadãos que acompanham a política um pouco mais de perto.
Por isso a importância estratégica da comunicação. Por ora eles estão se sustentando, entretanto, nunca vencerão completamente. Poderão esmagar nossa economia, fazer sofrer o povo, submeter o país novamente aos ditames de nações estrangeiras.
Mas enquanto restar um fio de consciência, dignidade e independência intelectual no Brasil, haverá sempre resistência.
O fascismo é uma força enorme, terrível, uma doença política que incha rapidamente. Em algum momento, contudo, ele sempre será derrotado.
A história, neste sentido, se repete.
Mas para isso precisamos ficar atentos.....e unidos.
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