Ontem, 24 da agosto, completou-se 61 anos do suicídio de Getúlio Vargas. Eu, neto de Maria Ernestina Vargas e filho de Getúlio Manoel, como trabalhista de origem não posso deixar de prestar minha homenagem aquele que marcou de forma indelével toda a vida política brasileira e cujas heranças de governo são ainda hoje, segunda década do século XXI, os principais pilares de sustentação dos trabalhadores e da economia da nação brasileira.
Apenas para citar algumas: criou o Departamento de Correios e Telégrafos, instituiu a CLT,garantindo os direitos trabalhistas, a Carteira de Trabalho, as férias remuneradas, a jornada de 8 horas diárias, a aposentadoria e a Previdência Social.
Instituiu o Código Eleitoral e estabeleceu o voto secreto, o voto feminino e a justiça eleitoral no país. Criou o Instituto do Açúcar e do Álcool. Criou, em 1938, o Conselho Nacional do Petróleo. Criou, em 1939, o Conselho de Águas e Energia Elétrica. Fundou, em 1941, a Companhia Siderúrgica Nacional. Criou, em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce. Criou, em 1944, o Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial.
Em 1953, criou a Petrobrás e instituiu o monopólio estatal do petróleo (extração e refino). Em junho de 1952, criou o BNDE (atual BNDES).
Através de um decreto, assinado em 1952, regulamentou o trabalho do menor aprendiz. Em julho de 1952, criou o Banco do Nordeste. Em novembro de 1953, aprovou a lei sobre liberdade de imprensa.
Não foi por menos, portanto, que tantos o quiseram derrubar. E continuam tentando, até os dias de hoje, acabar com seu legado.
Deixo com os amigos a Carta Testamento de Getúlio Vargas, um dos documentos fundamentais da História do Brasil, e da constituição do Partido Democrático Trabalhista (PDT).
A voz é do meu grande amigo Paulo Ottaran.
CARTA TESTAMENTO
"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, me insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício nos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história."
Getúlio Dornelles Vargas.
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