Andrés Sepúlveda afirma haver alterado campanhas eleitorais durante oito anos dentro da América latina.
Por
Jordan Robertson, Michael Riley, y Andrew Willis | 31 de marzo, 2016
Para
o Bloomberg Bussinessweek
*
Tradução de Júlio Rocha – 3766/DF
Pouco
antes da meia-noite Enrique Peña Nieto anuncia sua vitória como o
recém-eleito presidente do México. Peña Nieto foi um advogado e
milionário vindo de uma família de prefeitos e governadores. Sua
esposa foi a atriz de telenovelas. Luzia radiante enquanto era
coberto com confete vermelho, verde e branco na sede do Partido
Revolucionário Institucional, ou PRI, que havia governado há mais
de 70 anos consecutivos antes de ser destronado em 2000.
Ao
devolver o poder ao PRI na noite julho 2012 Peña Nieto prometeu
reduzir a violência relacionada com as drogas, combater a corrupção
e dar início a uma era mais transparente na política mexicana.
Duas
mil milhas (3.200 quilômetros) dali, em um apartamento no bairro de
classe alta de Chico Navarra, em Bogotá, Andrés Sepúlveda estava
sentado em frente a seis telas de computador. Sepúlveda é
colombiano, muito robusto, com a cabeça raspada, cavanhaque e uma
tatuagem de um código QR com uma chave de criptografia na parte de
trás de sua cabeça. No seu pescoço que estão escritas as palavras
"cabeça" e "corpo", um acima do outro em uma
alusão obscura para a codificação. Sepúlveda assistia a uma
transmissão ao vivo da celebração da vitória de Peña Nieto, à
espera de uma declaração oficial sobre os resultados.
Quando
Peña Nieto ganhou Sepúlveda começou a destruir provas.
Minuciosamente começou a abrir buracos perfurados em unidades flash
USB, discos rígidos e telefones móveis; são calcinados seus
circuitos de microondas e, em seguida, esmagados com um martelo. Ele
triturou documentos e jogou-os no vaso sanitário; desvencilhou-se
dos servidores alugados anonimamente na Rússia e na Ucrânia,
utilizando Bitcoins. Foi desse mode que nosso personagem perturbou a
história secreta predominante de uma das campanhas mais sujas na
América Latina nos últimos anos.
Sepúlveda,
31, afirma que viajou por oito anos em todo o continente,
secretamente contratado para manipular as principais campanhas
políticas. Com um orçamento de US $ 600.000, o trabalho feito para
a campanha de Peña Nieto foi de longe o mais complexo. Ele liderou
uma equipe de seis hackers que roubaram estratégias de campanha,
manipulando redes sociais para criar falsos sentimentos de excitação
e zombaria e instalando spywares na sede de campanha da oposição,
tudo a fim de ajudar a Peña Nieto, candidato de centro-direita, para
conseguir uma vitória. Naquela noite de julho, ele abria, de forma
inquietante, garrafa após garrafa de cerveja negra “Columbus” na
celebração. Como de costume na noite da eleição, ele estava
sozinho.
A
carreira de Sepúlveda começou em 2005, e seus primeiros trabalhos
foram bem menores - consistiam-se principalmente em modificar
campanhas e websites para violar os bancos de dados adversários com
informações sobre seus doadores. Ao longo dos anos ele montou
equipes especializadas em espionagem, roubo e difamação prestando
serviços para campanhas presidenciais na América Latina. Seus
serviços não eram baratos, mas o espectro era amplo. Por US $
12.000 por mês, um cliente contratou uma equipe que poderia intervir
em telefones inteligentes, criar sites falsos e clonar e enviar
e-mails e mensagens de texto em massa. O pacote premium, a um custo
de US $ 20.000 por mês, também incluiu uma ampla gama de
intercepção digitais, ataques, e decodificação de defesas.
Empregos foram cuidadosamente lavados através de vários
intermediários e assessores. Sepúlveda disse que é possível que
muitos dos candidatos que ajudou não estavam cientes de seu papel.
Só conheci alguns.
Suas
equipes trabalharam em eleições presidenciais na Nicarágua,
Panamá, Honduras, El Salvador, Colômbia, México, Costa Rica,
Guatemala e Venezuela. As campanhas mencionadas nesta história foram
contactadas por porta-vozes correntes e antigos; qualquer uma delas,
exceto o PRI do México e do Partido Nacional Avanço da Guatemala,
ele se recusou a comentar.
Quando
criança, ele testemunhou a violência das guerrilhas marxistas na
Colômbia. Adulto se uniu a direita que emergia na América Latina.
Ele acreditava que suas atividades como um hacker não eram táticas
mais diabólicas que a daqueles a quem se opõem, como Hugo Chávez e
Daniel Ortega.
Muitos
dos esforços de Sepúlveda não renderam frutos, mas tem vitórias
suficientes para dizer que tem influenciado a direção política
latino-americana moderna, bem mais que qualquer outra pessoa no
século XXI. "Meu trabalho eram acções de guerra suja e
operações psicológicas, propaganda enganosa, rumores, ou seja,
todo o lado escuro da política que ninguém sabe que existe, mas
todo mundo vê", diz ele sentado em uma mesa de plástico
pequena em um pátio externo localizado nos fundos do escritório
altamente vigiado do Procurador-Geral da Colômbia.
Atualmente
cumprindo uma sentença de 10 anos imposto pelos crimes de uso de
software malicioso, conspiração para criminalidade, volação de
dados e de espionagem ligados as eleições colombianas de 2014.
Concordou em expor a versão completa dos fatos, pela primeira vez,
na esperança de convencer o público que foi reabilitado e voltar a
reduzir sua sentença.
Geralmente,
ele afirma, esteva na folha de pagamento de Juan José Rendón, um
consultor político que vive em Miami e foi listado como o Karl Rove
da América Latina. Rendon nega ter usado Sepúlveda para qualquer
ato ilegal e categoricamente refuta a versão que deu Sepúlveda
sobre seu relacionamento, mas admite conhecê-lo e contratou-o para
projetar websites. "Se eu falei com ele pode ter sido uma ou
duas vezes em uma sessão em grupo, no site", diz ele. "Em
qualquer caso, nunca para fazer coisas ilegais. Há campanhas
negativas. Eles não gostam, tudo bem. Mas se é legal eu vou. Eu não
sou um santo, mas eu não sou um criminoso "(destaca que apesar
de todos os inimigos que ele tem acumulado ao longo dos anos por
causa de seu trabalho em campanhas, nunca enfrentou qualquer acusação
criminal). Embora a prática de Sepúlveda era destruir todos os
dados após a conclusão de um trabalho, ele deixou alguns documentos
com membros de sua equipe, hackers e outras pessoas de confiança
como uma secreta "apólice de seguro".
Sepúlveda
deu a Bloomberg BusinessWeek e-mails que, segundo ele, mostram
conversas entre ele, Rendon, e a consultoria de Rendon sobre hacking
e o progresso de ataques cibernéticos sobre campanhas. Rendon diz
que os e-mails são falsos. Uma análise realizada por uma empresa de
segurança em informática independente mostrou que uma amostragem de
e-mails que examinaram parecem ser autênticos. Algumas das
descrições de Sepúlveda sobre suas atividades são consistentes
com relatos publicados de eventos envolvendo várias campanhas
eleitorais, mas outros detalhes não puderam ser verificados de forma
independente. Uma pessoa que trabalhou na campanha no México e que
pediu para não ser citada por medo de sua segurança, em grande
parte confirmou a versão do Sepúlveda sobre o seu papel de Rendon
naquela eleição.
Sepúlveda
disse que na Espanha lhe foram oferecidos vários trabalhos políticos
que teriam rejeitados por ser muito ocupado. Questionado sobre se a
campanha presidencial norte-americana está sendo alterada, a
resposta é inequívoca. "Estou cem por cento certo de que
está", diz ele.
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